A velha dor
Toma conta
Quase como se soubesse bem seu lugar
O lugar cativo
Aquele que praticamente não lhe cabe
Que se espreme
Dobra e revira e volta
A raiva, o gosto da raiva.
O gosto no fundo da boca
Que nenhuma escova, enxaguante bucal,
Nem cigarro mentolado
Ou um beijo apaixonado
Nada tira
Do estômago e da cabeça.
A ferida volta
Depois e uma bela coçada
A casca se solta
E a pele, já manchada
Já empolada e vermelha
A pele se mostra frágil de novo
Como sempre foi
Sempre será.
Ela
Que não acredita em pra sempre
Que quer não acreditar em nada
Se vê a garota perdida
Pedindo socorro
Gritando e esperneando
No breu vazio.
A garota doce e resistente
Que mora ao lado da ironia e recalque
Se une a todas as outras
Se perde de si mesma
Se afoga
É forte
Se perde e se encontra
Na dor, na ferida
No pra sempre
No gosto
Na boca
Do estômago
E nem todo o orgasmo do mundo
Nem toda a embriaguez
Nem todo o ódio
Nada
Nunca
Mudará.