sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Carne estragada

Na prisão que só a liberdade me trouxe
Me pego gritando por um socorro inconveniente
Barulhos que se confundem com correntes
Dúvidas fantasiadas de verdades infantis

E acordar nunca mais terá o gosto de vida
Nem da morte que consagrou tudo que eu tinha
Você quis se livrar do que nunca entendeu
E apagou a única luz que eu te oferecia

Agora disfarce a tristeza e jogue cal por cima
Finja o controle, como se um dia isso importasse
Leve consigo suas certezas tolas e inúteis
Erre os desacertos de uma vida não-amada

Viva a dualidade mais superficial na qual se ateve
E não se atreva a mergulhar no caminho entregado
Pois vai que seu bicho-papão te encontra no lugar de sempre
Vai que ele descobre seus segredos já revelados

Já eu sigo do desejo na profundidade infinita
Persigo o medo de um real futuro esperançoso
Me desfaço das farpas agudas do passado
Agora encravadas estacas em meus dedos delgados

Num jogo sem cor ou brilho, nos nomeamos amantes
Chamamos de dança essas agressões diárias
Borramos a expectativa de carvão e sangue
Pra um dia, distante, sentirmos o peso da vingança

Afinal só queria meus sonhos de volta

Bem aqueles que foram arrancados de mim
Que a amargura dos teus olhos fez questão de apodrecer
E a fraqueza dos meus simplesmente tornaram lixo

Mesmos sonhos que bordava quando tudo era ímpeto
Mesma fome que sentia na carne mordida
Nenhuma frieza me arrancaria do que eu sou
Nenhum você me destruiria do que eu vou ser

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Descanse em paz?

Quantas vezes você já levou um tapa na cara? Essa coisa, às vezes atos ou palavras, que te trazem à realidade de uma forma brusca e dolorosa em segundos... Hoje levei mais um.
Uma manhã normal de quarta, café da manhã e terapia.

- Luana, você TEM que matar a sua mãe!

Foi isso. Uma frase, poucas palavras. Todos os problemas "inresolvíveis". Não foram os meus ex, não foram os meus amigos, nem mesmo a ausência do meu pai; foi a minha mãe.
Não a pessoa em carne e osso, claro, mas essa construção doentia que figurei em mim, em que me vejo prisioneira do seu reflexo e, ao mesmo tempo, a *heroína frágil* que precisa ser salva na torre mais alta.

Em menos de três segundos meu mundo desmoronou. Não sei o que pensar, muito menos como fazer, mas aquela verdade já estava ali, posta na minha frente, me deixando muda pra qualquer questionamento.
E todas as cobranças, todas as carências, todos os desafetos ganharam o sentido de se perder, não como se a resposta, a tal solução ou algo assim me fosse dada, mas talvez como uma revelação de algo, um poder que tivesse ao meu alcance.

"Você tem que matar a sua mãe" me livra de qualquer inocência que ainda insisto em ter diante das relações amorosas frustradas que consumo. "Você tem que matar sua mãe" me tira toda irresponsabilidade que eu tinha pelas falhas que acumulei na minha vida. "Você tem que matar a sua mãe" me desacorrenta até de você, meu amor, deixando claro que só te vi como extensão pruma dor que sempre esteve aberta e ensanguentada.

E quando eu matá-la, o que sobrará em mim? Como seria a Luana longe dos muros altos de expectativas que criou pra si mesma na tentativa de ser salva pelo que nunca realmente esteve ali? A quais outras dores eu estarei me expondo ao destruir a figura castradora/libertária que passei a vida inteira alimentando? Terei forças pra sustentar algo totalmente novo?
E o que mais me assombra: conseguirei desejar de corpo e alma que ela descanse em paz?